Seja em situações de quase morte em veículos de duas rodas, ou em uma fila do Subway, algumas circunstancias pelas quais passamos podem mudar nossa vida, nossas verdades sobre que é real ou não, pode acontecer em qualquer lugar com qualquer um.
Talvez essa seja a graça da coisa.
Digo isso com toda a certeza do mundo por quê sei que é verdade, afinal já passei por isso inúmeras vezes, claro que você também.
Acho bem difícil que você nunca tenha passado por algo assim, não dá para saber como você absorve as coisas ao seu redor, enfim, esse post fala sobre uma pipa azul e um garoto que não entendia muito bem como a realidade pode ser dura na hora de ensinar, que no caso sou eu.
Bom datas não vem ao caso, nem chegam a ser muito relevantes, o importante mesmo era o pipa azul que estava em minhas mãos.
Se eu tinha 8 anos era muito, uma criança retardada com seu primeiro pipa na mão, recém adquirido na lojinha mais próxima de sua casa.
Essa mesma criança se dirigia ao fim da rua para poder erguer aquela majestosa união de seda e gravetinhos, coloquialmente chamada de pipa, olhava o céu e via possibilidades, nada podia impedir aquele ser em plena fase de crescimento rumando a felicidade.
Após uma breve luta para erguer aquele negócio, sim foi uma luta, caso você nunca tenha tentado erguer uma pipa, recomendo que você não tente sozinho, mesmo assim acabei conseguindo e claramente foi um momento prazeroso.
Não sei como aquela atividade podia ser tão gostosa, realmente não consigo entender a galera da pipa que sempre via na rua, de qualquer forma lá estava minha pipa no céu, bem alto, em alturas que jamais conseguiria alcançar.
Devo confessar que foi tudo muito mágico e bonito até, todo o processo até ela ir as alturas foi gratificante, então aconteceu algo para o qual eu não estava preparado.
Como ninjas no céu, outras pipas apareceram.
Era um número elevado e todas vieram ao encontro da minha pobre pipa azul, eu não estava entendo mais nada nesse ponto da narrativa.
Se imagine no meu lugar, no auge de meu egocentrismo infantil, com pitadas generosas de falta de rua e mais um pouco de inocência, imagine.
Não conseguia calcular o que estava prestes a acontecer com minha companheira lá no alto.
Eles queriam voar próximos a mim? Mas por que tão próximos?
O primeiro a tentar não teve sucesso em abater minha pipa, não por habilidade minha, mas por falta de habilidade dele mesmo; de fato me faltava conhecimento sobre como se praticava aquela arte milenar do relo, aquele era meu primeiro contato com tais atividades envolvendo a pipa alheia, foi nesse ponto que minha ficha caiu.
Estavam tentando cortar minha linha, a única coisa que mantinha minha amiga comigo.
Quando entendi a situação em que me encontrava já era tarde de mais para qualquer tentativa de fuga.
Não sei se devido a falta de habilidade ou mesmo ao grande nível de experiencia dos inimigos que tentavam me tirar dos céus, minha linha foi cortada.
Um movimento limpo e suave, como um samurai alado dotado de uma espada banhada em cerol de fabricação caseira.
A principio pensei em correr para resgatar minha amiga, como já tinha visto outras crianças na rua fazerem, porém desisti rápido.
Lembrei que pipa caindo é como um ritual, dos mais poderosos que você possa imaginar, para invocar crianças nas ruas.
Todas ensandecidas correndo em busca do premio que vinha dos céus.
Minhas esperanças se foram junto com a maldita pipa.
Fiquei olhando para aquele situação, estático, pensando.
Pensei em como aquilo era uma situação que estava acima de minhas vontades, da minha tristeza, da minha pessoa como um todo.
O que poderia fazer naquele momento?
Isso mesmo.
Nada.
Afinal independente de minhas vontades, ou do que achava sobre o ocorrido, nada mudaria, não podia fazer muita coisa contra a realidade acima de mim.
Fui para casa triste e pensativo, sem minha pipa mas com uma lição valiosa na cabeça.
Não se pode fazer muito sobre uma realidade que você não tenha poder suficiente para moldar aos seus interesses, isso foi muito sério naquele dia.
Quando entrei meu pai me perguntou o que aconteceu, tentou me consolar alegando que poderíamos comprar outra, não quis, já tinha entendido que aquela atividade não era pra mim.
Enfim esse post chegou ao fim, se você gostou eu não sei, mas espero que meu texto tenha te levado, ao menos por alguns segundos a uma época cheia de situações de aprendizado, uma época mais simples e humilde, isso essa época mesmo que você pensou ai, enfim até uma próxima seu bonito(a).
Marcel, adoro o jeito que você escreve!!! Sensacional! ♥
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