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5/22/2018

Aprendendo SEMPRE  

 Ontem logo pela manhã, travei a segunda parte de uma batalha épica com meu chuveiro. O bendito estava pingando onde não deveria, ou seja, em meio a água quentinha caiam singelas gotas geladas na espinha; parecia o Hyoga de cisne me fazendo carinho durante o banho, fato esse que só ocorreu devido a falta de conhecimento de quem o instalou, que no caso é o Marcel do passado, que até a primeira parte dessa batalha épica, nunca tinha enfrentado nenhum inimigo desse porte.

 Após algumas adversidades, de parafusos perdidos no ralo a dificuldades com as ferramentas disponíveis, consegui colocar o chuveiro para funcionar como deveria, no processo ainda aprendi várias coisas para batalhas futuras. Aprendi o que é "vedar uma rosca", aprendi onde fica o fio terra, aprendi a ter cuidado com parafusos pequenos, enfim, aprendi.  Isso me deixou pensativo sobre como qualquer coisa pode ser levada como aprendizado em nossas vidas, até uma batalha contra um chuveiro pode ser uma oportunidade para adquirir conhecimento, para transformar nossa realidade a partir do conhecimento, enfim,  esse texto não é sobre essa batalha épica, menos ainda sobre adquirir conhecimento, mas sim sobre uma aventura de um jovem garoto em conflito com suas necessidades fisiológicas.


 Se você tem parentes mais novos que você, frequentadores de parquinhos e campinhos de areia, crianças no geral, e também já está pronto para assumir certas responsabilidades, fica óbvia a missão de cuidar da galera mais nova.

 É uma breve folga dos pais, acontece bastante quando você é o primo mais velho, o irmão mais velho, enfim, se você é aquele meio termo entre confiança e a falta dela, com certeza você será o escolhido.

 A gangue que se dirigia para o parquinho consistia em cinco crianças e dois adolescentes. Um dos adolescentes era o autor dessa crônica, o outro era Sr. C, que estava muito mais preocupado com o almoço que se aproximava do que com a segurança das crianças.

 Chegamos, após caminhar em chão de terra, passar por poucas casas, aquele típico cenário do interior de SP, os olhos das crianças brilhando mais que o sol das 11.

 Assim que explicamos os riscos que aquele parquinho poderia oferecer, dispararam como jovens ao notar que falta 30 minutos para encerrar o "open-bar".

 Encontramos o banco mais próximo, estrategicamente posicionado para observar a gangue da sombra, enquanto eles se aventuravam naquele vasto parquinho minúsculo.

 Eles estavam se divertindo, nós discutíamos o quão perigoso é o trepa-trepa, e também o fato inacreditável da maioria das crianças sobreviverem a essa fase, cheia de riscos velados, em meio a essa discussão nem percebemos um dos membros da gangue se aproximando, o LG.

 Só para fins de esclarecimento, o LG se chama Luís Guilherme, é um dos mais novos da gangue e claramente o mais estressado, mesmo isso não fazendo nenhum sentido, afinal, ele nem imagina o que o aguarda daqui alguns anos.

 Outro fato importante para a construção desse personagem importantíssimo é: Ele é a criança escolhida da gangue, aquela que ninguém leva a sério, aquela que aflora a criatividade da família, o pobre LG era o nosso velhinho de 8 anos, assim que ele estava perto o suficiente para falar ele gritou:

 - TIO MARCEL!

 - Oi LG o que você precisa cara? - Respondi depois do breve susto.

 - Preciso ir no banheiro. - Ele se contorcia enquanto se esforçava para falar.

- LG acabamos de chegar, não tem banheiro aqui, faz no matinho ali, ninguém vai ver não.

 Levantei, coloquei minhas mãos no ombro do LG, virei ele em direção ao mato mais próximo e disse:

- Vai que é tua LG, você consegue cara.

 Assim que ele se afastou, ainda se contorcendo, Sr. C me questionou sobre o grau de parentesco entre nós, após uma explicação completamente tosca do tipo: " Sei lá cara, minha vó é irmã da vó deles, aonde eu entro nessa história? Nunca saberemos.", LG novamente estava no nosso campo de visão, dessa vez claramente desesperado, se segurando para não explodir ele disse:

- Tio Marcel  preciso muito ir ao banheiro, eu vou morrer se não for.

 Foi ali que percebi que o pobre LG estava passando por uma situação, levemente mais difícil do que o imaginado, não era exagero, o garoto estava passando mal.

 Novamente me levantei, abaixei para ficar na mesma altura e o questionei:

 - LG acabamos de chegar, banheiro só lá na casa, para voltar tem que ser todo mundo junto, seus primos vão encher seu saco o caminho todo, você tem certeza disso?

 Antes de continuar essa conversa LG respirou fundo, se concentrou, chegou pertinho do meu ouvido e disse com a calma que só o desespero verdadeiro pode trazer para o ser humano:

- Tio Marcel eu quero cagar.

 Ouvi a suplica do meu quase-parente, e entendi os motivos de seu comportamento de quem está prestes a se cagar em público.

 De fato ele estava quase lá.

 Reuni a gangue rapidamente, já deixando claro os motivos de ir naquele momento, todos entenderam, reclamaram bastante e se preparavam para partir, mas aparentemente o próprio LG não entendia certas questões simples de tempo-espaço.

 Em meio a suas reclamações, que já se tornavam tão presentes quanto nossos passos, o Sr. C se manisfestou:

- Cara sério, precisamos ajudar essa criança.

- Eu sei mas o que eu posso fazer? Ele não vai cagar no mato, a única solução é chegar na casa.

- Para Marcel pensa em alguma coisa, abre a boca e deixa ele cagar dentro, sei lá, ajuda ele cara.

 Sr. C queria soluções, não questionamentos.

 Foi ai que tive uma ideia, que nesses momentos onde se está próximo a pessoas em formação, sem muitas barreiras sociais ou psicológicas, qualquer ideia parece muito boa.

 Consegui reunir a atenção de todos os membros da gangue, e perguntei:

- Todo mundo aqui assistiu Dagonball?

- SIIIIIM.- Responderam todos para matar o Tio Marcel de orgulho.

- Tio Marcel quero muito cagar, não quero saber de desenho - Esse era o LG se concentrando ao máximo para não fazer isso em sua cueca do homem-aranha.

- Calma que eu vou chegar lá, quero que todo mundo repita o que vou fazer agora.           

 Reuni toda a minha falta de vergonha na cara, me posicionei igual a um respeitoso Sayajin, punhos fechados próximos ao estomago, me concentrei e gritei o mais alto que pude:

- EU QUERO CAGAAAAAAR- tomei ar e gritei novamente - EU QUERO CAGAAAAAAAAR.

 As crianças estavam me olhando como quem olha uma árvore falante com asas, uma mistura de medo e fascínio, Sr. C passando mal de rir, se concentrou e repetiu a manobra, com menos intensidade mas com sinceridade.

 Mais alguns segundos foram necessários para a gangue entender o que estava acontecendo, até que o próprio LG gritou, com toda a força de seu pequeno pulmão:

- EU QUERO CAGAR.

 Aquele grito veio do mais profundo daquela pobre criança, não era exagero dizer que foi o grito mais belo que já presenciei, algo próximo a materialização dos desejos da alma por meio de gritaria, após isso todos foram pegos por essa vontade incalculável de gritar.

 Eu tinha criado um momento que provavelmente jamais será esquecido, toda a gangue gritava e ria, alguns em meio aos gritos engasgavam devido a espasmos involuntários, riam e gritavam.

 LG estava levando aquilo tão á sério que parecia um vocalista de banda trash.

 Aparentemente toda essa situação desviou a atenção deles e conseguimos chegar em nosso destino, claramente chamando mais atenção que o esperado, quem veio abrir o portão estava com os olhos arregalados para com toda aquela baderna feliz.

 LG ainda gritava antes do portão abrir, assim que a passagem se mostrava a frente dele, respirou fundo e correu, no meio do caminho parou, se concentrou e deu seu último grito:


- EU QUERO CAGAAAAAAAR -  continuando sua corrida rumo a privada, como um orgulhoso guerreiro.

 Todas as crianças já tinham passado pelo portão, Sr. C ainda se recompondo me diz com lágrimas nos olhos:

- Você é um gênio, estou passando mal aqui.

-Não sou gênio não cara, sou apenas um idiota com platéia, só isso.


Bom esse texto chegou ao fim, não sei se alguém, além dos envolvidos na história, aprenderam alguma coisa, mas espero a sua presença nessa nova tentativa de retomada do blog, agradeço se você deixar um comentário e nos vemos na próxima postagem.

Ass: M.O.P.

Revisão: Thebis


PS: Ninguém na casa entendeu direito o que aconteceu.

PPS: LG se tornou uma lenda após a explicação do ocorrido.

PPS: Os pais do LG me saldaram como um herói naquela manhã.






 

3 comentários:

  1. Só 'kurti' a aventura! Bravos Saiyajins

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  2. kkkkkkkkkkkkkkkkkk caraio veio, me senti em um mangá Shounen na parte que você diz: "Calma que eu vou chegar lá, quero que todo mundo repita o que vou fazer agora. "

    Sabe aquela parte que o personagem principal precisa que todos confiem nele e você fica ansioso pra saber o que ele está tentando fazer? Me senti nessa cena. Agora mistura essa cena com o Onizuka. Ou seja: eu sei que viria alguma merda e de fato veio kkkkkkkkkkkkkk

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