Creio que nunca pedi nada pelo Ifood, não faço ideia de como os componentes do meu computador se organizam para funcionar, as vezes apanho para colocar legenda nos negócios que estou assistindo, enfim, uma vergonha para toda uma classe; os jovens.
Na realidade muitas informações me escapam, principalmente no que diz respeito ao funcionamento do mundo como um todo, informações simples, porém cruciais.
O que deve ser normal a toda uma parcela da população, mesmo ainda existindo quem acredita conhecer demais - quanta prepotência da parte deles.
Sempre tem alguma piada ruim para aprender, outras formas de fazer merda, de ser multado, o conhecimento é infinito na mesma medida que sua capacidade de fazer merda.
Porém a postagem de hoje não é sobre nada disso, na verdade ela é sobre um motorista de Uber que se deixou levar por uma boa conversa e se tornou uma lenda em meu coração.
Demorei alguns segundos para entender que o carro parado duas casas da minha era meu Uber, estendi a mão para ele, rapidamente veio e parou.
Já dentro do carro e com os devidos comprimentos sociais básicos executados o questionei:
- Cara tem como parar no banco da avenida? Preciso de dinheiro para te pagar, me parece importante sabe.
- Claro que paro, sem problemas.
Iniciamos nossa viagem, o motorista se chamava Paulo e a primeira pergunta que ele fez foi sobre futebol.
A princípio, imaginei que o papo duraria segundos; que seria basicamente eu decepcionando o paulo por não saber a escalação da seleção, além do meninoney.
Porém foi ai que me surpreendi, quando literalmente pensamentos bem similares aos meus saim de outro ser humano, sobre o esporte que move nossa nação, independente de para qual direção.
A parada de não julgar o livro pela capa é realmente traiçoeira.
Seguimos conversando, um papo tranquilo, ambos expondo suas opiniões sobre o mundo e a galera que transita por ele.
Falamos sobre pessoas que não existem, pessoas que são projeções do que gostariam de ser, mas que de fato são uma mentira bem contada, sobre não termos grandes aspirações quanto a dinheiro, que somos pessoas tranquilas com várias situações que a vida nos impôs, enfim, um assunto me chamou atenção e tive que ser mais específico em meus questionamentos.
- Mas Paulo, se você tem um emprego maneiro e a grana não é o foco, o que você está fazendo dirigindo pela cidade?
- Estou fugindo da minha mulher, Marcel.
Nesse ponto estávamos, praticamente, íntimos; tentei me controlar mas não consegui, minhas risadas tomaram conta de seu carro, vi que ele ficou sem graça e prossegui:
- Como assim "fugindo"? Paulo, ela quer te matar?
- Não exatamente, talvez queira, não tenho certeza.
Em meio as suas explicações quanto aos seus problemas de relacionamento, nosso destino ficava mais próximo, a não ser pelo pequeno detalhe que nos perdemos.
A falta do GPS somados com a minha falta de senso de direção, resultou numa situação meio triste, começamos a rodar por ruas aleatórias, sem muitas esperanças de encontrar o caminho.
Deixei claro que horário não era um problema, que poderíamos procurar a moda antiga, questionando estranhos na rua.
Dentro da minha cabeça, me encontrava feliz, ao ouvir ele abrir seu coração com sinceridade, achei intrigante, poético de certa forma.
As vezes é tão complexo falar sobre o que sentimos, que se faz necessário apelar para um estranho no banco do passageiro.
Saímos em buscas de um direcionamento, passamos por velhos, postos de gasolina, até encontrarmos uma senhorinha; muito simpática por sinal.
Interrompemos seu passeio com o cachorro em busca de uma luz, de respostas, foi ai que o mapa perfeito, nos foi entregue, daqueles que você gasta muita gold no RPG para ter acesso.
Chegamos ao nosso destino rapidamente com o direcionamento correto, assim que paramos de frente ao ponto final de nossa, nem tão breve, jornada; me senti no direito de falar alguma coisa para ele.
Algo que talvez eu gostaria de ouvir, caso estivesse na situação dele.
Uma ideia para ele pensar no caminho de volta, respirei fundo e disse, olhando no olhos dele:
- Paulo, nos conhecemos a tipo uns 15 minutos, mas acredito que devo dizer isso pra você antes de sair desse carro.
- Pode falar. - Respondeu sereno.
- Sei que é muito fácil dar opiniões estando de fora, mas se posso dizer algo sobre essa situação que você está cara, é o seguinte: Adquira conhecimento. Transforme sua realidade a partir disso, para algo menos pior, talvez aceitável, não sei, mas tenta transformar "isso", em outra coisa a partir do conhecimento que você adquiriu da situação anterior.
- Nossa Marcel, vou pensar nisso sim.
- As coisas sempre podem mudar Paulo, nunca duvide disso.
Depois do meu momento livro de auto ajuda, fui pegar minha carteira, naquele momento a magia aconteceu.
Nenhum cenário, por mais otimista que pudesse ser, envolvia o que acontecia bem diante de meus olhos.
Essas coisas mexem comigo, sério fiquei emocionado.
O dinheiro já metade pra fora da carteira, aquele movimento lento, sendo dividido em vários frames, esticado pela tristeza do seu dinheiro ir embora.
- Marcel, o papo foi bom demais, essa é por conta da casa, deixa pra pagar a volta.
Mesmo gostando muito do que ouvi, questionei devido aos meus próprios princípios monetários, ainda com o dinheiro "meio" tirado da carteira.
- Paulo, isso é real? Digo vou guardar minha grana, descer do carro e você vai seguir sua viagem? Você está certo disso?
- Não tenho dúvidas quanto a isso.
Assim meu dinheiro voltou para dentro da carteira, agradeci ao Paulo por seu momento de gentileza, ele prontamente buzinou e seguiu pelas ruas ingratas de nossa cidade.
Nessa tarde Paulo se tornou uma lenda, algo que jamais esqueceria, uma corrida grátis no Uberx.
Imagino que você esteja se perguntando, agora que a postagem chegou ao fim, algo do tipo: " Nossa Marcel que interessante, olha como você deu essa volta toda para discorrer sobre adquirir conhecimento, como você é #topzera né cara.", então, isso até pode estar correto, mas meu desejo mesmo era propagar essa história para o máximo de pessoas possíveis.
Ass: M.O.P.
Revisão: Theba.
O seu cara de cavalo, devia ter pego o numero do Paulo, ai quando precisasse de uber chamava ele, virava um cliente fiel
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